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Setor de louça enfrenta concorrência chinesa


fonte:
http://www.parana-online.com.br/editoria/economia/news/137654/
03/09/2005
Lyrian Saiki

Milhares de peças de porcelana, cerâmica e de outros materiais, como madeira e gesso, estão em exposição desde ontem no Ginásio da Rondinha, em Campo Largo, onde acontece a XV Feira Nacional da Louça, que vai até o dia 11. O evento se realiza em um período em que o setor cerâmico enfrenta grandes dificuldades, principalmente por conta da concorrência chinesa, da queda do dólar e da alta do preço do gás natural. Apesar de todos esses contratempos, a expectativa é que a feira alavanque novos negócios e receba cerca de 60 mil visitantes.

“O cenário não está como gostaríamos. Estamos nos adaptando à nova situação”, afirmou o presidente do Sindicato das Indústrias de Vidros, Cristais, Espelhos, Cerâmica de Louça, Porcelana, Pisos e Revestimentos Cerâmicos no Paraná (Sindilouças-PR), José Canisso. Segundo ele, a queda do dólar representa uma das principais dificuldades do setor. Da produção anual - estimada em 450 milhões de peças -, entre 35% e 50% é exportada. “Fechamos negócios com o dólar alto e agora estamos entregando com a moeda baixa”, lamentou.

Sobre a alta do preço do gás natural, anunciado pela Petrobras, Canisso taxou tanto a estatal como a Compagás (responsável pela distribuição de gás natural no Paraná) como “insensíveis.” “Muitos estão mandando os fornos para outros estados”, afirmou. Conforme a Petrobras, o gás que vem da Bolívia - e abastece os estados do Sul - terá aumento de 33%. A primeira parcela, de 10%, já começou a ser aplicada no dia 1.º de setembro. A segunda, de 13%, deve ser aplicada a partir de 1.º de novembro, e o restante em janeiro de 2006.

Para o empresário Antônio Girardi, diretor-presidente da Germer Porcelanas Finas, caso o aumento do preço de gás natural chegue às fábricas, ele terá que ser repassado ao consumidor. “A indústria não tem como absorver mais nada. Se qualquer reajuste de 1% já vira uma briga, imagina então de 33%?”, questionou. Segundo ele, todos os contratempos enfrentados pelo setor já estão implicando em crescimento este ano. “As vendas em 2004 foram excelentes. No início de 2005, estimamos crescimento de 20%, mas devemos repetir os números do ano passado, com dificuldades”, afirmou. A Germer está instalada em Campo Largo há 26 anos e produz 700 mil peças por mês.

Além da alta do preço do gás natural, o setor de louças - especialmente o de porcelanas - ainda enfrenta a concorrência de produtos chineses que, segundo Girardi, custam até 60% menos que os nacionais. “Não falo em qualidade, mas em preço. E o que as pessoas procuram é preço menor, não adianta.”

Para o diretor Fábio Faria, que participou ontem da abertura da feira como representante do Ministério do Desenvolvimento, o setor cerâmico tem que se organizar para enfrentar a “concorrência desleal” da China. “O setor tem que se organizar. Depende da iniciativa do setor em argumentar, colocar o seu ponto de vista para que o governo federal tome alguma decisão sobre isso”, afirmou Faria.

37 empresas

O pólo cerâmico de Campo Largo é formado por 37 empresas, que geram 14 mil empregos diretos e indiretos. O setor é líder em produção, fabrica 90% da porcelana branca de mesa nacional, 83% das porcelanas da América Latina, 40% das cerâmicas de mesa e mais de 16 milhões de metros quadrados de pisos e revestimentos ao ano.

Serviço: A Feira Nacional da Louça acontece das 14h às 22h (dias úteis) e das 10h às 22h (sábados, domingos e feriados), no Ginásio da Rondinha, BR 277, km 20. Ingresso a R$ 3,00.

Expectativa no mercado internacional

Para o proprietário do Atelier Fedalto & Otero, Marcelo Fedalto, as expectativas não poderiam ser melhores. Ainda este ano ele estará levando suas peças para a Galeria Lafayette, na França, onde espera divulgar seus produtos para o mundo todo. “Lá fora, o reconhecimento é muito maior”, garante. Fedalto se concentra especialmente em peças de cerâmica - especialmente vasos -, com pintura feita à mão. “É tudo artesanal”, garante. O atelier surgiu há dois anos com a produção de 10 mil peças por mês e hoje já são 30 mil.

Para a designer Daniela Botelho, a feira tem gostinho de novidade. “É a primeira vez que apresento o meu trabalho ao público”, afirmou Daniela, que trabalha com linhas de peças exclusivas e faz a pintura à mão há seis meses. O produto, praticamente exclusivo, concorre com marcas já conhecidas no quesito preço. Um jogo de seis pratos rasos, por exemplo, sai por R$ 90,00.

Mas a feira é também para quem procura peças mais baratas. Caso de pratos de porcelana da Schmidt, vendidos por R$ 1,99 cada. O industrial Valdemir Pansani, de Pedreiras (SP), viajou quase 620 quilômetros e arrematou o estoque de 12 caixas - 144 pratos no total. O objetivo é revender em sua loja. “Esses pratos estão com o preço abaixo do custo. Um prato de porcelana, sem decalque (estampa), não sai por menos de R$ 3,20”, afirmou. (LS)

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