Há muitos anos um engenheiro brasileiro que morava na Inglaterra voltou ao Brasil para trabalhar na City, firma inglesa que era responsável pelas águas e esgotos da Cidade Maravilhosa naquela época . A história acabaria por aqui, quando mal começava, se o coração desse jovem engenheiro não tivesse dado sinais de cansaço e se ele não tivesse se mudado, a conselho médico, do Rio para a fazenda São José do Ribeirão e Magé, que pertencia à família da sua esposa e que ficava na ainda pouco conhecida região de Itaipava.
Enquanto isso, passeando pelo mesmo Rio de Janeiro de outros tempos, um ceramista francês, em visita ao museu de São Cristóvão, se encantou com as peças marajoaras e, tomado de entusiasmo pelas formas harmoniosas dos vasos, pelo ritmo das ornamentações e pela composição das cores, resolveu se estabelecer no Brasil para se dedicar mais profundamente à pesquisa dessa arte.
Mesmo modesta nas suas primeiras instalações - eram apenas dois fornos que serviam a olaria que já funcionava na fazenda a Cerâmica Itaipava logo se tornou conhecida.
Em uma matéria publicada em 1930 pela extinta revista O Cruzeiro, a Cerâmica ganha duas paginas, cheias de fotos, e é descrita como uma interessante e ousada empreitada no mundo das artes - A fábrica de S. José não produz apenas vasos e pratos no estilo de marajó, mas grande variedade de cerâmica de arte: fontes, bustos, painéis de azulejos, estatuetas. Em todos nota-se bom gosto, orientado no sentido da brasilidade, inspirando-se no que é caracteristicamente brasileiro: flora, fauna e humanidade.
Além das peças criadas por Gonot, a Cerâmica Itaipava teve a contribuição de outros artistas que, convidados por Alberto Costa a passar temporadas na fazenda, enriqueciam o trabalho de criação diversificando assim os produtos e reforçando a proposta de se fazer uma cerâmica artística. Entre os muitos que colaboraram estavam o russo, Albert Shilde, e o alemão Marx Grossman.
Novas técnicas também foram sendo testadas e algumas tornaram-se marca registrada de Gonot como, por exemplo, o coule, uma mistura de várias cores de verniz, derretido e escorrido. Outra grande novidade foi o aproveitamento do craquele, que é um defeito causado por uma diferença de contração entre o barro e o verniz, como motivo artístico. As rachaduras que apareciam no verniz eram preenchidas por uma massa preta, criando assim um efeito diferente, dando à peça uma aparência envelhecida.
O sucesso da pioneira Cerâmica Itaipava trouxe fama à região. Com o passar dos anos foram chegando outros ceramistas, como os portugues Luis Salvador, que aqui se instalou em 1952 trazendo na bagagem a arte da cerâmica de Alcobaça, sua cidade natal. A mão de obra especializada também foi crescendo e vários desses artesãos abriram suas próprias cerâmicas fazendo com que Itaipava, durante muitos anos, fosse uma referência importante dessa arte.
![]() |
detalhe de uma foto do final de década de 1930. |
![]() |
foto cortesia coleção Lourival Franco |
![]() |
foto cortesia coleção Lourival Franco |
![]() |
foto cortesia coleção Lourival Franco |
![]() |
foto cortesia coleção Lourival Franco |
![]() |
foto cortesia coleção Lourival Franco |
Olá! Gostei muito do post! Você teria ideia da época em que a Cerâmica Itaipava acabou?
ResponderExcluirOlá, pela década de 1970, aparentemente.
ExcluirMuito obrigado!
ResponderExcluirVocê conseguiu identificar marcas diferentes para épocas diferentes?
ResponderExcluirSim, mas parcialmente, e sem total confiabilidade.
Excluirabraços
Obrigado! Nas pouquíssimas peças que vi, o que percebi foi que algumas tem marca incisa e me parecem ser mais antigas e outras marcas pintadas que me parecem ser mais novas... Você notou isso? Concordaria comigo? Desculpe abusar das perguntas mas aqui foi o único lugar que achei para poder conversar com alguma a respeito da Cerâmica Itaipava. Abraço!
ExcluirOi Rodrigo,
ExcluirSim, concordo, penso o mesmo, e as marcas carimbadas talvez ainda mais recentes que as pintadas à mão.
abraços
Fábio. Obrigado por responder. As carimbadas acho que nunca vi... vou prestar atenção. Abraço.
ResponderExcluirContente de ver esse post. A Cerâmica Itaipava foi a pioneira de muitas outras que surgiram depois nesse município de Petrópolis. Esse engenheiro, Alberto Augusto da Costa, era meu avô. Não sei se tenho o registro exato do ano em que fechou, mas sei bem a história dela contada por minha mãe, a filha mais velha dos três filhos que teve, não sei se ela chegou ou passou dos anos 40. Alguma coisa sobre ela aqui. Uma matéria da revista O Cruzeiro, de março de 1930, conta um pouco da história dela, e foi reproduzia num livre de edição bem limitada que minha mãe escreveu.
ResponderExcluirhttps://www.facebook.com/ceramicaitaipava.brasil
ResponderExcluirVi algumas peças dela na rede - da Cerâmica Itaipava - identificadas como sendo "vintage da Luiz Salvador", e como sendo da década de 1950, mas não está correto, não, ela fechou muito antes disso!
ResponderExcluirEm tempo: o fundador, Alberto Augusto da Costa, faleceu em 1936. Terminou por aí a fase original. Segundo informações de agora, de uma tia, última sobrevivente desse periodo pioneiro, a cerâmica foi vendida e continuou por mais um tempo. Tentando ainda saber melhor as datas exatas. Ela fala em década de 60, mas acredito que não tenha ido até lá, não, pode ter ido até os anos 50.
ResponderExcluir