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A Era Weiss


Cerâmica guarda história de apogeu e fracasso

Fábrica que marcou a industrialização de S. José enfrenta resultado da falência e cobrança de ex-funcionários

por Ricardo Moura
25/12/2002
site Vale Paraibano
http://jornal.valeparaibano.com.br/2002/12/25/sjc/cerami1.html

Um grupo de 80 ex-funcionários da Cerâmica Weiss de São José dos Campos luta há seis anos para receber os direitos trabalhistas que ainda não foram pagos após o fechamento da empresa, em 1996.

A situação seria igual a de várias outras empresas não fosse o fato de a luta desses funcionários revelar a história de uma fábrica que marcou a vida da cidade entre as décadas de 40 e 90.

A história da Cerâmica Weiss começa em 1923, quando o italiano Eugênio Bonádio constrói a primeira fábrica de São José. Ela recebe o nome de Fábrica de Louça Santo Eugênio. Nessa mesma época, chega à cidade a família Weiss, também de origem italiana.

Das seis filhas de Eugênio Bonádio, duas se casam com os descendentes dos Weiss. Ines Bonádio se une a Roberto Weiss e Sergia Bonádio, à Mário Weiss. Após o casamento, eles decidem deixar a Fábrica de Louça Santo Eugênio para fundar seu próprio negócio.

É assim nasce, em 1942, a Cerâmica Weiss. O cenário não era dos melhores porque o mundo estava no auge da 2º Guerra Mundial. No entanto, a crise internacional não afetou a disposição e criatividade dos jovens que queriam fazer sucesso nos negócios.

As mulheres assumiram a criação artística da cerâmica. Eram elas quem realizavam a criação das louças, vasos e enfeites que seriam produzidos para a venda. Os homens por sua vez, ficaram responsáveis pela administração da fábrica.


Sérgio Weiss em sua casa, onde estão guardadas peças das décadas de 40 e 50


SUCESSO - A união deu certo. As peças produzidas na Cerâmica Weiss começaram a fazer sucesso e logo ganharam mercado. As louças foram vendidas inicialmente no Rio de Janeiro e São Paulo. Em pouco tempo, a produção era comercializada em diversas cidades do Brasil.

O músico Sérgio Weiss, 74 anos, filho do casal Inês Bonádio e Roberto Weiss, conta que as primeiras peças produzidas eram feitas de forma manual. "Minha mãe criava as peças e as funcionárias da empresa produziam manualmente o que ia ser vendido" , contou.

Com o sucesso das vendas, a Cerâmica Weiss teve que se modernizar. A partir da década de 60, o processo manual foi sendo substituído pela linha de produção. Nos anos 70 e 80, a empresa já exportava para o Estados Unidos, Japão e Europa. Um contrato firmado com a empresa Avon, garantiu o crescimento dos negócios que já iam muito bem.

A crise econômica que assolou o Brasil na reabertura política pós ditadura, no início da década de 80, afetou a saúde financeira da Cerâmica Weiss. O problema se estendeu até os anos 90, quando a empresa não resistiu à concorrência dos artigos importados e faliu.

A fábrica que chegou a ter 1150 funcionários, fechou as portas em 1995 com apenas 6 empregados. Nesse período de crise, os funcionários realizavam uma série de greves para receberem seus salários atrasados. A maior delas foi em 1986, quando a empresa atrasou por três meses o pagamento.

LUTA - A história da Cerâmica Weiss em São José se resume hoje ao galpão da fábrica situado no bairro do Santana, zona norte, e na luta de 80 ex-funcionários da empresa que tetam receber seus direitos trabalhistas.

A espera já dura sete anos, desde o fechamento da fábrica (leia mais nesta página).

O patrimônio que restou da empresa está incorporado à massa falida da Cerâmica Weiss. Segundo a Justiça de São José, o valor da massa falida hoje é R$ 1 milhão. Parte do dinheiro deverá ser usado para pagar as dívidas trabalhistas. Não há data prevista para o pagamento. A previsão é primeiro semestre de 2003.


Filmes eram fonte de inspiração para peças

A criadora artística da cerâmica, Ines Weiss, buscava várias fontes de inspiração para compor as peças para a fábrica. O fato mais curioso ocorreu no final da década de 40. A nora de Ines, Maria Helena Weiss, 67 anos, conta que a sogra se inspirou para fazer uma peça após assistir um filme no final da década de 40. "Ela assitiu o filme Yankee in Raf, que contava a trajetória de um americano na Força Aérea inglesa. Ines viu um vaso e copiou igual. Ela mandou um dos criadores da cerâmica ver a fita três vezes para pegar mais detalhes da peça", disse Maria Helena. Ines Weiss morreu em 1995 antes do falência.


Comprador acreditava que peças vinham da Alemanha

"As vendas da Cerâmica Weiss fizeram sucesso na época da 2º Guerra porque as pessoas compravam as peças produzidas em uma fábrica em São José dos Campos pensando que estavam comprando louças importadas da Alemanha. Os consumidores achavam que as peças eram importadas por causa do nome Weiss" disse Sérgio Weiss. O fato, contado com emoção, é um dos que marcam as lembranças que a família tem da época de ouro da Cerâmica Weiss em São José. A fábrica chegou a exportar para os Estados Unidos, Japão e países da Europa.


Herdeiro propõe criar um museu

O músico Sérgio Weiss, 74 anos, filho de Ines Bonádio e Roberto Weiss, mantém em sua casa em São José um verdadeiro acervo de peças produzidas na Cerâmica Weiss. As relíquias são datadas das décadas de 40 e 50, mas há também louças da fase mais moderna.

As peças estão em todas as partes da casa e até o cafezinho é servido em louças produzidas na cerâmica.

Sérgio Weiss propõe a criação de um Museu do Pioneiro. Pela proposta de Weiss, São José ganharia um espaço onde seria contada a história das primeiras e mais famosas industrias que marcaram época, entre elas, a Cerâmica Weiss e a Tecelagem Parahyba.

"Me lembro que quando as pessoas visitavam a cidade existiam dois lugares que eram pontos obrigatórios. A Tecelagem Parahyba, onde se comprava cobertores, e a Cerâmica Weiss, para comprar louça. Precisamos criar um museu que conte estas histórias", disse Weiss.

Sérgio Weiss não contabilizou ainda o número de peças que têm em casa. Ele afirma que, se alguns vasos fossem vendidos hoje, valeriam R$ 5.000. "Muitos são pintados a ouro de forma manual. Apesar de valer um bom dinheiro, não vendo porque as peças têm um grande significado histórico", disse.


Greve marcou decadência da fábrica

A história de vida da sindicalista Luci Antunes, 63 anos, se confunde com as lutas trabalhistas que ela liderou na década de 80 e 90 na Cerâmica Weiss. Luci entrou no Sindicato dos Ceramistas em 1986 e logo começou a participar da diretoria da entidade. Na época, Luci ainda era funcionária da empresa.

O sindicato promoveu uma série de greves a partir de 1985, quando começou a crise financeira da Cerâmica Weiss. Luci conta que uma das maiores paralisações foi em 1986, quando os 1.150 funcionários da empresa pararam a produção por 15 dias.

"Me elembro como se fosse hoje. A empresa atrasou o salários por três meses. Niguém mais aguentava, alguns empregados ficaram sem comida em casa", disse Luci.

Hoje Luci lidera o movimento de 80 ex-funcionários para receber os direitos trabalhistas. Na semana passada, o grupo se reuniu com o juiz da 3ª Vara Civil de São José, Luiz Maurício Sodré de Oliveira, para discutir o andamento do processo.

Na reunião, o juiz prometeu que até o primeiro semestre de 2003 parte da dívida trabalhista será paga aos ex-empregados. "Estamos esperançosos em receber o dinheiro", disse a ex-empregada Maria Amorim Moreira, 36 anos.

2 comentários:

  1. Olá Fabio, td bom? Talvez você possa esclarecer uma dúvida, se for possível... Ganhei de uma tia um peça Weiss, tipo um "cachepô", embaixo da peça tem uns números e a etiqueta. Você saberia dizer o que significa essa numeração? (526 - 016 - 514 - 72).Obrigada, um abraço Bel Barbiellini

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    Respostas
    1. Olá,
      Essa numeração indica modelo, decoração, lote, e talvez tb quem a pintou.
      abraços!

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