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"Made in Brazil?" - 2 anos depois...

Há quase 2 anos eu escrevi um artigo chamado "Made in Brazil?", que foi publicado pela extinta revista Retrô, que versava sobre a mania brasileira de repatriar artigos de louça fabricados por aqui, para valoriza-los, seguindo esse ranço colonial de que apenas o que vem do exterior tem qualidade e valor.

Quem quiser ver o artigo original, há uma versão online em meu site: http://www.porcelanabrasil.com.br/p-20.htm

Pois bem, 2 anos se passaram, e a coisa praticamente não mudou! A lista de marcas brasileiras vendidas erroneamente como importadas, muitas delas trazendo explicitamente a origem, só fez crescer.

Vejam abaixo os erros mais comuns de “troca de nacionalidade” de marcas genuinamente brasileiras:

Zappi – Portugal, Inglaterra e Itália

Adelinas - Portugal

Ars Bohemia - Boêmia (Polônia e República Checa)

Monte Alegre – Portugal

Luiz Salvador – Portugal

Vieira de Castro – Portugal

Porcelana Mauá (peças decoradas com motivos orientais por empresa decoradora) – Japão

Weiss – Alemanha

Santo Eugênio – Inglaterra

Nadir – Inglaterra, Holanda

Saler – Inglaterra, França e Portugal

Pátria (DP e PA) – Alemanha

Cerâmica Matarazzo (marca padrão) – Inglaterra e Alemanha

* A Cerâmica Matarazzo teve, além de suas marcas tradicionais, ao menos seis marcas fantasia, que parecem ter sido usadas para linhas diferenciadas de decoração:

Dresden (Cerâmica Matarazzo) – Alemanha;
Mod. Kanton (Cerâmica Matarazzo) – Inglaterra;
Mod. Oxford (Cerâmica Matarazzo) – Inglaterra;
Mod. Cambridge (Cerâmica Matarazzo) – Inglaterra;
London – (Cerâmica Matarazzo) Inglaterra

Cerâmica Tasca – Itália, Portugal

Schmidt – Inglaterra

Cerãmica Mauá – Inglaterra (jogo de toalete)

Rosicler – Portugal

Germer – Portugal

Oxford – Inglaterra

Fico me perguntando se algum dia abandonaremos esta vergonha local, como se tudo que é brasileiro não tivesse qualquer valor, que apenas o "gringo" é digno de reconhecimento e apreciação.

A coisa é tão séria, que como conto no artigo, até mesmo peças visivelmente marcadas como de produção brasileira precisam receber uma "capa" estrangeira, para poder ter valor, como no caso de uma loja de antiguidades de São Paulo, onde uma senhora, que atua no ramo há muito tempo, alegou que a Porcelana Real enviava suas peças por navio para serem vitrificadas na Alemanha!!

E ela falou isso em relação a um jogo da década de 1960 (que para ela era dos anos 1940, já havia aí um engano)!!

A história completa foi: “as peças de porcelana da Real passavam apenas pela primeira queima (biscuit) na fábrica, eram decoradas com os decalques, e seguiam de navio para a Alemanha, para sofrer glasura (vitrificação) e douração”, pois “o Brasil não possuía forno de alta temperatura adequado para a produção de porcelana fina até depois da Segunda Guerra Mundial”.

Acontece que o Brasil possui fornos para queima e vitrificação de porcelana em escala industrial pelo menos desde a década de 1920, e em menor escala já na década de 1900.

O que mais me irrita é quando mesmo depois de avisada que uma determinada peça não é estrangeira, mas sim brasileira, a pessoa nada faz a respeito, e continua a vendê-la como importada.

Aí já saiu do terreno da desinformação ou distração, para o da pura má fé. E infelizmente, a desinformação é ainda maior entre os compradores, que se deixam enganar facilmente.

Vejam o caso recente de um antiquário "sofisticado" de Copacabana, que vende um jogo da Cerâmica Matarazzo como sendo inglês, e que mesmo depois de provado que esta louça é brasileira, nada fez a respeitos, e ainda afirmou "Mas eu não vendo isso como porcelana brasileira!"

a ignorância é a mãe dos "bons negócios"?

ignorância - mãe dos "bons negócios"? - parte 2

Em resumo: quem compra é que tem que ter a informação e não se deixar enganar.

Um comentário:

  1. Eu estou de pleno acordo com esta reportagem. Temos que dar valor ao que é brasileiro, afinal somos brasileiros, moramos no Brasil e temos que honrar nossa Pátria e nossos produtos.
    Sandra Aparecida

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