Ontem fui no Shopping dos Antiquários com amigos de SP que estão passando uns dias aqui no RJ. Para quem não conhece, é a maior concentração de antiquários em um mesmo lugar no país, e um passeio imperdível. Em duas lojas encontramos jogos de jantar completos Matarazzo, com 2 das marcas fantasia usadas por esta fábrica: Mod Cambridge e Mod Oxford. Em ambas as lojas os jogos eram vendidos como "porcelana inglesa".
- Não consigo aceitar que pessoas que fazem questão de levantar o nariz e dizer que "o meu antiquário é um dos de mais alto gabarito e confiabilidade no país; temos 44 anos de tradição no mercado" não saibam algo que aprendi talvez no "dia 1" de minhas pesquisas sobre louça inglesa: LOUÇA INGLESA DESDE FINAIS DO SÉC. XIX JAMAIS SAÍA DA FÁBRICA SEM AS INDICAÇÕES DE "ENGLAND" (antes de 1930) OU "MADE IN ENGLAND" (depois de 1930). Isso era uma LEI DA CORÔA! Qualquer livro ou site básico sobre o assunto tem esta informação.
Os ingleses "inventaram" a revolução industrial (em grande parte, graças à submissão do Brasil à sua indústria, via corte portuguesa, mas isso é para outra ocasião), e tinham muito orgulho de mostrar ao mundo a capacidade de suas fábricas. Imagina se iam exportar louça sem marcar que era um legítimo produto inglês!
As marcas fantasia da Matarazzo possuem apenas o nome da marca, sem qualquer indicação de nacionalidade.
O que eu percebo de uma forma geral é que os negociantes preferem fazer o papel de ignorantes, pois se eles "não sabem" estes detalhes, podem depois dar aquelas velhas e surradas desculpas: "ah, eu não sabia disso", "quando eu comprei me disseram isso", "eu fui informado que era assim", entre outras. Mas isto, além de um ABSURDO, é falta de ética profissional. Antiquaristas tem a obrigação de serem bem informados sobre aquilo que negociam! Numa das lojas, o jogo de jantar era vendido como "porcelana inglesa Oxford, da Mappin & Webb". Queria ver a nota fiscal original de compra deste jogo, para ver se foi mesmo comprado na Mappin & Webb. E mesmo que tenha sido (não sei em que tipo de loja a Matarazzo vendia suas louças), duas coisas aquele jogo não é: não é porcelana, muito menos é inglês! Será que se alguém comprar este jogo, eles emitem um atestado de autenticidade? Baseado em quê?
saiba mais >> Marcas da Cerâmica Matarazzo
Pois é, imagina quando seu livro sair a quantidade de informações que esses vendedores escroques vão ter que negar. Vale também salientar que existem os antiquaristas "do bem" e sempre querem mais informações e as usam para sim valorizarem suas peças, porém esses a que você se refere no post maculam o meio e enfraquecem o mercado.
ResponderExcluirO blog está maravilhoso e parabenizo a você , Fábio, pela extensa pesquisa! Moro em São Vicente e já tive o prazer de ver peças simples, do dia a dia, que garimpei por aqui, compradas por você! Uma delas designada por você mesmo como faiança! Trata-se de xicrinhas de café da Santo Eugênio. No dicionário
ResponderExcluirachei que faiança é um determinado tipo de louça submetida a certo tipo de temperatura, nada mais.
Não vejo a hora te lançares teu livro para estudar mais a fundo essa controvertida questão. Teu site deve ter minúcias
sobre isso, mas ler tela de computador não é o meu forte! Já os livros ... são eternos companheiros! Sucesso sempre !!!
Lúcio e Mônica, obrigado por suas palavras e apoio ao blog!
ResponderExcluirMônica, a distinção ente porcelana e faiança é um pouco mais complexo do que apenas a temperatura de queima. Tem a ver com a formulação da massa cerâmica também. No site há alguns artigos interessantes sobre o assunto.
http://www.porcelanabrasil.com.br/p-19.htm
http://www.porcelanabrasil.com.br/p-07.htm
abs!
Prezado Fábio
ResponderExcluirEu sou arqueólogo com larga experiência em escavação de sítios históricos e na minha instituição (Instituto de Arqueologia Brasileira) temos sob nossa salvaguarda cerâmica indígena de diversos Estados em que pesquisamos, além de material neo-brasileiro e uma cacaria impressionante de louça de origem européia. Com colegas de Pernambuco estamos colaborando para a elaboração de um catálogo de louças históricas datadas através de níveis estratigráficos de sítios escavados metodicamente (os primeiros dos quais nos ideos de 1959).
Esta introdução é só para me situar, pois é a primeira vez que escrevo para este site.
Quando jovem, em 1962, fiz o curso de cerâmica industrial no Inst.Nac. de Tecnologia, na Praça Mauá, RJ, sob orientação do falecido Dr. Zeemann, com a duração de um ano. A experiência foi fantástica, embora para minha especialidade, pouca coisa aproveitei diretamente. Mas era um curso pesado, como base teórica e prática e até mesmo reproduzíamos vidrados cujas fórmulas físicas, transformávamos em químicas e podíamos experiencia-los nos fornos do INT. Até o "sangue de boi" tentamos (saiu alguma coisa levemente parecida...).
Pois bem, um dia em companhia de minha sogra da época, que gostava de antiguidade, quase briguei com um antiquário na Praça XV que me afirmou categoricamente não haver diferença entre louça e porcelana.
Quando afirmei que esta última (para ser de fato porcelana) tem a pasta totalmente vitrificada, enquanto a primeira (Grés, Majólicas, etc) possui um núcleo poroso, ele me chamou simplesmente de "imbecil".
Fim de papo.
Vejo que após tantos anos a ignorância continua. Vide discussão abaixo sobre a ignorância mãe do negócio.
Caro Ondemar,
ResponderExcluirObrigado por sua mensagem.
Pois é, infelizmente este cenário não mudou.
Para muitos, por pura preguiça de saber mais sobre o que se lida.
Mas infelizmente, para alguns, por oportunismo mesmo. "Não saber" permite que muita barbaridade aconteça disfarçada de ignorância.
Há uns 2 meses, quase apanhei de um "barraqueiro" da feira da praça XV, quando disse para ele que o prato que ele vendia como "porcelana inglessa borrão séc. 19" não era nem porcelana, mas pó-de-pedra, nem inglesa, mas brasileira, da Cerâmica Matarazzo, muito menos borrão (a técnica do prato era transfer) e tb não era séc. 19, mas algo em torno de déc. 1930/1950. O sujeito teve um surto de agressividade, e acho que se eu não tivesse imediatamente me afastado, a coisa teria ficado feia.
Parabéns pelo seu trabalho e sua pesquisa, para a qual desejo total sucesso, pois sei como essa atividade é infelizmente menosprezada em nosso país.
abraços!
Prezado Fábio
ResponderExcluirSeria o mesmo? O cara com quem discuti se fazia passar por uruguaio ou argentino, pelo menos caprichava no sotaque.
Ondemar
Olá Ondemar,
ResponderExcluirNão creio. O que foi agressivo comigo era um sujeito meio rude, meio peão de obra, na casa dos 40. Destas pessoas sem a menor formação cultural que "caem" no comércio de objetos antigos por acidente. A feira da praça XV está tomada por estes tipos, que não entendem nada do que estão vendendo.
Boa tarde,
ResponderExcluirUm Antiquario que não sabe destinguir Porcelana de Faiança,não é um Antiquario.Acredito que muitos vendedores que se intitulam de Antiquarios não sabem realmente o que estão a vender.Seja no Brasil ou aqui em Portugal,eles apenas sabem referir que se trata de uma peça antiga,são pessoas que nunca estudaram o assunto,nem nunca tiveram interesse em aprender.Eu entrei neste tipo de colecionismo(louças Portuguesas e Pratas Portuguesas)a menos de 1 ano..e hoje percebo como existe aqui tanto Antiquario ignorante e falo ignorante porque penso que eles tem obrigação de saber para informar corretamente os compradores.Tive que gastar algum dinheiro em livros da especialidade,fazer muita pesquisa,falar com quem sabe para hoje puder comprar sem ser enganado.Nos meus passeios aos Domingos pelas feiras que se fazem na rua dou por mim muitas vezes a ensinar ao antiqurio aquilo que ele está a vender,uns agradacem a informação..outros nem tanto.
Parabéns pelo blog.
H.P(de Portugal)
Olá H.P., seja bem vindo!
ResponderExcluirPois é, a sua história poderia ser a minha. Nestes 4 anos que me meti em colecionar louça brasileira, passou sempre pela mesma situação que você bem descreveu.
Vendedores há muitos; antiquários mesmo, pouquíssimos!! E pensar que o termo "antiquário" surgiu para designar o profissional que hoje em dia chamamos de arqueólogo, ou seja, pessoas que dedicam suas vidas a estudar e se aprofundar em objetos do passado.
abraços!
OLÁ TENHO 59 PEÇAS DO JOGO DE PORCELANA INGLESA JONNSON BRO ENGLAND BY... HÁ O INTERESSE? MEU TELEFONE É 13 78144118
ResponderExcluirFábio,
ResponderExcluirSe for do seu interesse, gostaria de fazer chegar às suas mãos umas peças de porcelana inglesa (desde que você pague o frete de Mogi das Cruzes-SP). Quando eu nasci, há 59 anos, o conjunto de jantar já existia em casa. As peças foram se quebrando e eu teimando em manter o que restou. Meus filhos são avessos à "velharia", como dizem. As peças vão acabar relegadas em algum brechó, desvalorizadas ou vão se quebrar, e isso eu não posso me permitir. Meu telefone é 11 99676-0858. Carinhosamente, Maci
Olá Maci,
ExcluirObrigado, mas minha pesquisa e coleção é apenas de louça brasileira. Prefiro que você destine estas peças para alguém que tenha interesse em louça estrangeira.
abraços
Obrigada pela gentileza Fábio
ResponderExcluirParabéns pela sua dedicação na pesquisa sobre louça brasileira, que é um tema muito interessante.
Abraço
Parabéns pelo seu blog, Fábio. Cheguei aqui para aprender algo sobre louça brazuca. Incrível a carência de informação sobre uma parte tão bacana da história. Moro no Rio. Vou procurar seu livro mas também gostaria de saber se ha algum curso sobre o tema. Grata
ResponderExcluirOlá,
ExcluirObrigado por suas palavras!
Meu livro infelizmente está esgotado. E peço desculpas, mas não conheço nenhum curso nessa área...
abraços!
Fábio
Tenho um aparelho de jantar e café completo que ganhei de casamento há 21 anos. Todas as peças tem uma gravação atrás Woods e sons ... É mesmo um jogo inglês legítimo?
ExcluirProvavelmente, Patricia, porém é difícil dar um veredito sem ver as peças.
Excluirps: desculpe a demora; eu não estava mais recebendo notificação dos comentários há quase 2 anos, e não sabia disso!