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propagandas

Encerrando a série sobre os documentos que auxiliam os pesquisadores de louça, agora é a vez das propagandas.

Por acaso estou lendo um livro da Sotheby´s sobre história da porcelana no mundo (entenda-se mundo por China, Japão e alguns outros países orientais, Europa Central -- Portugal, que teve, e ainda tem, importantes fábricas, ficou de fora -- e Estados Unidos), mais especificamente sobre as origens das indústrias de porcelana, e em vários pontos deste livro fica muito claro a importância dos anúncios impressos em jornais e revistas, e também na mídia especializada, para os pesquisadores que escreveram este livro. Há fábricas que são descritas sobre as quais não se conhece sequer uma peça "ao vivo", segundo contam, mas que muito da história, e dos modelos fabricados, pode ser recuperada através de anúncios.

E como pode-se ver nas ilustrações abaixo, estes anúncios, desde o século 18, eram fartamente ilustrados com os produtos das fábricas. E isto parece muito natural, até mesmo óbvio, pois se você quer vender seu produto, precisa mostrá-lo!

Já aqui em nosso país, onde a indústria de louça só decolou no século 20, com toda uma tecnologia gráfica já mais desenvolvida, propaganda de louça, ainda mais ilustrada (embora de forma pobre), até meados dos anos 1950, só mesmo de louça importada, de lojas de presentes finos.

Pelo o que eu pude analisar nos catálogos telefônicos do Rio de Janeiro, e algumas conversas que tive com um mestrando de arqueologia da USP, que faz sua tese a partir das escavações no sítio de uma fábrica pioneira de SP, ficou claro para mim que por muito tempo a louça produzida no Brasil não era assunto para se ter orgulho. Ela era vendida em bazares de materiais de construção ou de artigos para limpeza e manutenção do lar. Lojas de classe média para cima vendiam louça importada. Nossa louça só recebe autorização para frequentar as lojas mais sofisticadas na segunda metade do século 20, provavelmente via os grandes magazines, antecessores dos shopping centers, que começam a se tornar comuns.

Isto não é surpresa para mim, pois até mesmo hoje em dia é nossa "mania de colonizado" só dar valor ao que vem de fora. Parece que sempre temos uma certa vergonha da produção nacional, mesmo quando esta é de padrão igual ou até mesmo superior da estrangeira. Para nos sentirmos "alguém de valor" não importam nossos pensamentos e atitudes, mas sim os sinais de status com os quais podemos recobrir nossos corpos e lares.

O infeliz resultado disto tudo é que os anúncios são raros (mesmo depois da déc. 1950 não são muito frequentes), e desta forma se perdeu mais uma oportunidade de documentar e preservar a história desta indústria.

Abaixo, alguns exemplos de anúncios ingleses e brasileiros, em ordem cronológica.



John Tams, Inglaterra, 1886, Pottery Gazette



Brownfield & Sons, Inglaterra, 1886, Pottery Gazette



R Floyd & Sons, Inglaterra, 1924, Cox's Potteries Annual Year Book


Johnson Brothers, Inglaterra, 1955, Prestige and Progress
A Survey of Industrial North Staffordshire



Porcelana Steatita, 1956, Páginas Amarelas - Paraná



Cerâmica Mauá, 1956, Anuário de Mauá


Porcelana Mauá, 1957, jornal Estado de São Paulo


Porcelana Rio Branco, 1965, Páginas Amarelas do Rio de Janeiro


Porcelana Renner, 1969, revista Seleções


Cerâmica Porto Ferreira, 1975, revista Manchete


Porcelana Schmidt, 1989, revista Mauá - Informe Especial

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