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Análise arqueológica diferencia louça brasileira da inglesa

fonte: http://www.usp.br/agen/?p=35762
por: Rafaela Carvalho
1 de outubro de 2010

A análise arqueológica de uma fábrica de louças desativada nos anos 1930, no bairro da Lapa, em São Paulo, revelou que a fabricação de louças brancas no País não tentava agradar apenas as elites. Apesar da influência pós-colonial da Europa, havia um diálogo da fábrica para com a cultura local. Segundo o historiador Rafael de Abreu e Souza, o sítio arqueológico de nome Petybon trazia o material em diversas etapas de fabricação, possibilitando a diferenciação do produto brasileiro em relação ao produto inglês entre as décadas de 1910 e 1930. “A análise da cerâmica, do esmalte e do tipo de pasta usados na fabricação dessa louça brasileira tornam possível a identificação do produto nacional”, conta o pesquisador.

Em seu estudo apresentado no Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), Souza conseguiu traçar a cadeia produtiva da louça e perceber detalhes estéticos que eram característicos da cultura brasileira, comprovando que o produto não era inglês.


Louças mostram industrialização e adaptação ao cotidiano dos brasileiros

A popularização da louça chega ao Brasil no começo do século 20 — a fábrica pesquisada, por exemplo, foi aberta em 1913. É um momento, segundo Souza, de paranoia higienística, de combate a materiais porosos e de projetos elitistas de modernização, como a Revolta da Vacina.

Um exemplo do “diálogo” da fábrica com a cultura local, segundo o historiador, é a grande quantidade de tigelas que encontradas no sítio. “O hábito dos brasileiros mais simples era de se alimentar sem o uso de talheres, colocando a comida em cuias de cerâmica e pegando-a com as mãos. As fábricas de louça, percebendo esse hábito, fabricaram tigelas, que ganharam popularidade no Brasil”, descreve.

A louça analisada também tinha características estéticas que comprovavam sua origem e adaptação brasileiras, como os desenhos e as cores utilizadas. “Nessa época, Brasil começava a se industrializar e o êxodo rural ganhava força. Então, o que se vê desenhado nas louças é a representação de motivos ligados ao tema do bucólico, com a natureza em alta.” Pintura de flores e frutas eram as mais comuns, enquanto nas pinturas de louças inglesas, via-se pinturas como castelos. “Além disso, as cores das pinturas eram muito diferentes. Enquanto na Europa havia o hábito de usar roxo e azul, aqui no Brasil eram usadas cores mais quentes, como amarelo, vermelho e laranja”, conta Souza.

Ambiente de trabalho

A pesquisa, porém, não se limitou apenas às características da louça. Coletando materiais no sítio Petytbon, Souza percebeu que alguns materiais mostravam as formas por meio das quais os operários se adaptavam ao ambiente fabril opressor dá época. O historiador conta que há uma louça com uma inscrição “caipira Rafael”, feita a lápis. “Pode ser uma piada, uma brincadeira… é uma das formas que o operário encontrou para sobreviver naquele cotidiano”, explica.

O pesquisador também conta que, em algumas louças, é possível ver impressões digitais, o que fortalece a presença do operário e do ser humano nas fábricas. “As digitais mostram que o ser humano estava lá, mesmo em meio a um ambiente organizado em cadeias de produção taylorista.”

A cultura material, segundo Souza, é fundamental para entender o comportamento das sociedades. “O diferencial de um trabalho de arqueologia do mundo recente [no caso, do século 20] é poder conversar com pessoas que viveram aquilo. Há um conceito muito conservador de tempo, que diz que a arqueologia só pode estudar algo que aconteceu séculos atrás e isso não é verdade. A arqueologia do mundo recente é mais engajada com a comunidade.”

A dissertação de mestrado Louça branca para a Paulicéia: arqueologia histórica da fábrica de louças Santa Catharina / IRFM – São Paulo e a produção da faiança fina nacional (1913-1937) foi apresentada ao MAE no dia 18 de março de 2010 e orientada por Margarida Davina Andreatta.

2 comentários:

  1. Ahhhhh... Eu queria ver fotos comparativas das louças...

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  2. Tem alguma coisa na dissertação dele.
    http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/71/71131/tde-24032010-170351/pt-br.php

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