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A Pêra Rocha já era representada em cerâmica no século XIX


A pêra tem sido uma referência também na arte, sobretudo na cerâmica caldense desde Manuel Mafra, e também na pintura de Josefa d’Óbidos. Quem o descobriu foi o historiador João Serra, que partilhou a sua investigação na cerimónia de entronização de novos elementos da Confraria da Pêra Rocha, que se realizou a 16 de Maio, no Museu do Hospital e das Caldas.




“A cerâmica das Caldas, nas suas origens, está relacionada ao próprio núcleo histórico e ao seu hospital termal”, afirmou o historiador João Serra, explicando que os operários teriam ali construído alguns dos materiais utilizados na edificação, como a telha ou o tijolo. Na sua oração de sapiência sobre a pêra Rocha na cerâmica o investigador explicou ainda que os primeiros oleiros instalaram-se em inícios do século XVI, vindos de Lisboa, para trabalhar para o hospital termal na confecção de utensílios de cozinha e objectos médicos. Apesar dos trabalhos arqueológicos que poderão comprovar essa hipótese “estarem atrasados”, as informações de frei Jorge de S. Paulo (um dos primeiros provedores do Hospital Termal) já destacavam os vidrados da faiança caldense, sobretudo o verde Caldas e o vidrado castanho mel.

Na segunda metade do século XIX começa a ser criada a loiça naturalista. O seu introdutor foi Manuel Mafra, caracterizado pelo historiador como um homem “profundamente inovador”. Além da capacidade de fazer tudo o que lhe mostrassem, o cerâmico evoluiu na paleta de cores nos vidrados e começou a “animar” os pratos cerâmicos com animais e elementos vegetais.

“Estava-se a descobrir a cerâmica neo-Palissy e ele [Manuel Mafra] estava a fazer nas Caldas um trabalho notável de imitação e também de inovação”, disse João Serra.

O historiador procurou peras na obra cerâmica de Manuel Mafra e encontrou-as num prato que mostrou aos presentes. Também encontrou referências a este fruto na pintura de Josefa d’Óbidos e de seu pai, Baltazar Gomes Figueira.

“A cerâmica naturalista traz os elementos de modo a criar a ilusão de que o prato já está cheio de fruta”, disse. Outras vezes trata-se de dar à cerâmica a forma do objecto, como o açucareiro em forma de pêra, outro objecto que também mostrou.

Referindo-se ao local onde decorreu a cerimónia de entronização dos novos confrades (o actual Museu do Hospital e das Caldas) João Serra disse tratar-se de um local de residência real no século XIX. O autor do projecto foi o arquitecto Rodrigo Berquó, que também dirigiu as termas durante sete anos.

“Conheci este edifício como tribunal, até à criação do actual, em 1959”, informou o historiador, acrescentando que nos anos 80 o imóvel foi intervencionado e transformado em museu.

A Confraria da Pera Rocha é uma confraria gastronómica, que tem o objectivo de promover e divulgar o consumo e o bom-nome deste fruto, assim como incentivar a investigação e o seu património gastronómico nos seus múltiplos aspectos.

Fundada em 2004 no Cadaval, esta entidade tem como padrinhos a Confraria das Sopas e a Confraria dos Enófilos da Estremadura e conta com 70 membros.

Fátima Ferreira

fonte: http://www.gazetacaldas.com/Desenvol.asp?NID=26226
Gazeta de Caldas
Sexta-feira, 29 Maio de 2009 · ANO LXXXIII · Nº 4758

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